O Dragão e o Alzheimer

          O Dragão e o Alzheimer

           Trabalhei com um casal em que ela tinha Alzheimer e ele Parkinson. Eles tinham uma filha que morava em um bairro próximo, e os outros filhos estavam em outros estados, mas todos eram muito participativos, pois havia monitoramento por câmeras. Eles ligavam questionando ou sugerindo algo. No apartamento, residiam apenas o casal, mas os dias eram bem movimentados, pois além do cuidador, havia também uma cozinheira e uma faxineira, que ambas auxiliavam a Sra. Além disso, havia o fisioterapeuta nos dias da semana.

Eu cuidava do Sr. R à noite, mas como ele dormia com a esposa, eu também atendia a ela. Um fato que ocorria com certa frequência é que ela tinha alucinações e falava apavorada: 'Um dragão pegou meu filho e está voando muito alto!' Ela exclamava, 'Ele vai cair, ele vai cair!' Nesses momentos, eu participava da alucinação, dizendo: 'Não se preocupe, eu seguro ele... olha, ele soltou. Ele está caindo. Ufa, consegui pegar ele. Agora ele está bem, e a Sra. pode voltar a dormir. Está tudo bem!'

Outro fato que acontecia com ela era que, quando eu chegava, ela associava minha pessoa a alguém do passado dela, pois ela me chamava e me mostrava uns papéis, pedindo para conferir se estava tudo certo.

Com este relato, quero mostrar como lidar com pacientes com Alzheimer. Quando eles falam nos pais que já morreram como se estivessem vivos, o melhor é puxar assunto sobre as boas lembranças ou tentar mudar de assunto, mas jamais corrigir dizendo que aquela pessoa já morreu, pois você só estará trazendo de volta a dor do luto, e amanhã o fato torna-se a repetir. Este paciente vive num mundo só dele, com uma doença que não tem cura, então nos cabe proporcionar os últimos anos de vida com o melhor que eles podem ter.




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